Bento Munhoz da Rocha Netto
Dedicou-se ao magistério superior, tendo sido professor de várias disciplinas na Universidade Católica e na Universidade Federal, em cujo exercício se houve com crescente brilho.
Exerceu ainda o cargo de engenheiro chefe da Caixa Econômica Federal do Paraná.
Elegeu-se deputado constituinte em 1946, tendo participação saliente na defesa da reintegração do Território Federal do Iguaçu. Reelegeu-se em 1959, tendo exercido a 1º secretaria da Câmara dos Deputados.
Chegou ao governo do Estado em 1951, apoiado numa ampla coligação de partidos, muito semelhante àquela que elegeu seu antecessor, disposto a pôr em prática seu slogan de campanha, a dignificação da função pública. Tomou posse a 31 de janeiro e constituiu o secretariado à imagem das forças que sustentaram sua candidatura (PR, UDN, PTB, PSP e PRP).
Homem de idéias definidas, pensador, intelectual, sociólogo e professor, além de tribuno admirável, marcou sua passagem com projetos de forte conotação cultural, sem perder de vista o programa social, base de sua plataforma.
Ao assumir o governo, o estado encontrava-se em franca expansão de suas fronteiras agrícolas, com enorme movimento migratório, mas com escassez de estradas e de redes armazenadoras. Dispensou, por isso, máxima importância aos projetos rodoviários, iniciando a pavimentação de algumas rodovias estratégicas que modelaram a malha viária do Estado.
Cuidou das obras de energia elétrica (entrou em fase final o planejamento da Usina Capivari-Cachoeira e em concorrência a Usina Termo-Elétrica de Figueira), reaparelhando as pequenas unidades existentes, de forma a minimizar a dificuldade do setor. Construiu unidades escolares, centro de saúde, casas rurais, postos de puericultura e outros melhoramentos básicos. Criou o Fundo de Equipamento Agro-pecuário, o serviço especial de Zootecnia, estimulou o reflorestamento e o cooperativismo.
Disciplinou o processo de concessão de terras devolutas do Estado, que tanto desgaste impôs ao governo anterior, sob novos critérios, mediante rigorosa ordem cronológica, tombamento e exames dos requerimentos e verificação das posses.
A construção do Centro Cívico, em Curitiba, conjunto de edifícios destinados e centralizar a administração pública; a Biblioteca Pública e o Teatro Guaíra, inaugurados durante os festejos do centenário da emancipação política do Paraná, foram pontos altos da sua ação governamental.
“Sinto no governo o reverso da nossa evolução trepidante e, mais ainda, os efeitos da rápida transformação do nosso estilo de atividade econômica”, dizia Bento. De fato o Paraná experimentava uma revolução no seu processo civilizador. A projeção nacional alcançada pelo governador, inspirou o presidente João Café Filho a convocá-lo para o Ministério da Agricultura. Desejava fazê-lo candidato à presidência da República. Bento viu-se obrigado a renunciar o governo do Estado, a 03 de abril de 1955, com esse desiderato.
Foi substituído pelo deputado Antônio Annibelli, presidente da Assembléia Legislativa, até que se convocassem eleições indiretas, na forma da Constituição estadual, para preenchimento do cargo. Bento não conseguiu reunir forças partidárias suficientes para viabilizar seu nome como candidato. Manteve-se à frente do Ministério até a eclosão do movimento militar denominado “retorno aos quadros constitucionais vigentes”, liderado pelo marechal Teixeira Lott, em novembro de 1955.
Escritor consumado, deixou publicadas dezenas de obras de cunho sociológico, histórico e didático, entre os quais: “Uma interpretação das Américas”, “Ensaios”, “Itinerário”, “Radiografia de Novembro”, “Tinguís“, etc.
Faleceu em Curitiba, a 12 de novembro de 1978.
Biografia: História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994.
Foto: Galeria do Salão dos Governadores do Palácio Iguaçu, reproduzida por Simone Fabiano.